terça-feira, julho 04, 2006

Umas e outras



Poema visual de Regina Vater
Arte é tudo, menos pura
Se nem a cachaça é mais pura, o que dizer, então da arte, que se hibridiza em novas experiências e relações a cada vez que se “comete” um ato artístico? Quando alguém diz que está em busca do gesto puro – sem levar em consideração que toda a busca por pureza foi ingênua e acabou em genocídios. E que o Brasil é a forma definitiva e acabada de miscigenção – não só está negando o que lhe é devido, como está querendo reinventar a roda sem ter caminhos para ir.
Negar a arte conceitual, negar a interdisciplinaridade, a multiplicidade e a contaminação é negar a própria potência que a arte possui, enquanto agente de transformação e desenvolvimento espiritual, que é a raiz da cultura.

Futebol também é arte
Acima do ufanismo, devíamos agradecer se, acaso, essa derrota da seleção brasileira na copa representar o fim da era Parreira, e seu “futebol de resultados”. Chega de futebol feio. Queremos gols com classe e categoria. O que Zidane e seu time fizeram à seleção deveria ser o prenúncio de um novo tempo, que enterrasse o jogo retranqueiro. Mesmo a Argentina, que perdeu jogando bem, cometeu a mesma falha: não devia ter mexido em time que estava ganhando. Futebol arte, para agradar nossos corações!

Dos Estados Unidos para o Paraná
Regina Vater e Bill Lundberg estarão em Curitiba, nesta quinta-feira, dia 06, no Espaço de Convivência da Casa Andrade Muricy (Rua Dr. Muricy, 915) mostrando vídeos, vídeo-instalação e para uma palestra, a partir das 18 horas.
Bill é estadunidense e é considerado um dos pioneiros da vídeo-arte. Seus trabalhos geralmente unem a realidade virtual com a realidade “palpável”, através de projeções de vídeos em superfícies não-convencionais, como a projeção de um homem mergulhando em uma piscina, sendo que o homem é uma projeção e a piscina é real. Ou um jogo de tênis, em que a mesa é real e a bolinha, sendo jogada de lá para cá, uma projeção. Para esse rápido encontro o artista trouxe a instalação “Sonhadores”, que é uma homenagem a artistas, poetas e pensadores da cultura: são travesseiros colocados no espaço da galeria, onde se projetam imagens gravadas de artistas dormindo. O resultado plástico de seu trabalho é extremamente poético e metáfora para discursos sobre intimidades, em que a ilusão passa a ser um componente revelador do que somos.
Já o trabalho de Regina Vater é pontuado por performances e ações que levam em consideração os conhecimentos de rituais espirituais da humanidade, como o xamanismo e as práticas tibetanas de meditação. Regina, pertence à geração de artistas atuantes desde a década de 70. É casada com Bill e vive nos E.U.A. desde os anos 80. Aqui ela irá mostrar alguns vídeos já realizados, além de material inédito, que teremos a oportunidade de ver em primeira mão. Sobre o trabalho dos artistas, escreve o artista Newton Goto, que faz a produção desse evento: “Artistas cujas trajetórias convergiram para experimentações com a linguagem em vídeo e, primordialmente, para a investigação da arte como uma atividade eminentemente atrelada ao campo expandido da cultura, ao contexto social e a reflexões sobre a condição humana”.

Festival de Inverno de Antonina
Começa na semana que vem o Festival de Inverno de Antonina, no litoral paranaense, produzido pela Universidade Federal do Paraná. Convidado a participar do evento de “Circuitos Independentes”, através do projeto Redes, da Funarte, que fará parceria com o Festival, mostrarei alguns vídeos inéditos de performances e ações individuais e coletivas realizadas em Londrina. Tudo muito miscigenado, mas feito com muita garra e vontade. Coisa que faltou ao escrete canarinho... Tudo bem, daqui quatro anos, poderemos cantar de novo, “eu sou brasileiro, com muito orgulho...” e mostrar que ainda somos ufanistas, embora isso não nos sirva de consolo.