pelos muros da cidade
Ilustração de Cláudio: assinatura escrita com traços originais
Pelos muros da cidade
“Cláudio” é o seu nome. Não precisa do sobrenome. Sua assinatura pessoal está estampada nos muros de Londrina, em cada pintura que faz. São impressionantes. Elas mantêm com o centro da cidade um embate, como se fosse uma guerra entre a imagem de arte, lúdica, dada ao deleite e as peças publicitárias, invasoras, dominadoras – como o impacto visual da publicidade de marcas de celulares em prédios históricos – poluindo a cidade.
Mas, enquanto a imagem comercial parece estar em terreno próprio, como se o uso da cidade fosse só para o comércio e o lucro, simplesmente, a outra esbraveja, afirmando, mais uma vez “o uso contra a propriedade”. E explora essa cidade, buscando em muros acinzentados e ásperos a textura própria de trabalhos em preto & branco, com mil e uma “manhas” com o bico do spray (“cada um custa 12 reais”, ele diz) cuja tinta sai mais ou menos densa, conforme seu desejo (ou a necessidade do desenho). O P&B, aliás, não é uma carência de cor, mas uma opção que torna mais trágica a imagem. Que lhe dá uma densidade dramática, em que a cor, no caso, poderia resultar em algo cômico. E embora suas imagens tenham uma aparência de histórias em quadrinhos, elas não nos fazem rir, exatamente. Elas nos indagam e projetam no espectador o desconcerto de um enigma: o que é que você está olhando aí, meu?
Quem vê os grafites de Cláudio nas ruas, em muros como o da Praça da Concha Acústica; ou no muro do estacionamento das ruas Pernambuco com Pará; no banheiro do Calçadão, perto do Ouro Verde e tantos outros, não imagina o cuidado com que são feitos. Cláudio projeta o que vai ser na parede. Namora o muro, passa por ali várias vezes antes de se decidir por realizar sua intervenção. Cria estratégias: a que horas chegar, com que quantidade de luz pode-se contar, etc. Sabe que, apesar do valor de seu trabalho, o grafite é visto como uma atividade clandestina, ainda se confunde pichação com grafite. Arte com vandalismo.
O desenho, já esboçado em papel, está pronto para tomar a rua. É hora do embate.
Embate, que fica evidenciado quando ele traça ao redor da silhueta do seu desenho uma linha branca, separando seu trabalho do caos urbano, ao mesmo tempo em que o reafirma, no absurdo de olhar o absurdo: a cidade inchada de gente, de prédios e de sujeira e o seu desenho/pintura/grafite a nos indagar sobre aquilo que olhamos. E, ao nos indagar, nos toma, melhor, nos rouba, como se fosse um marginal, um bandido, um delinqüente que nos aprisionasse, por instantes. Depois, engatada a primeira marcha do carro, partimos para o próximo sinal vermelho, dentro da cidade aberta.
Suas imagens geralmente contêm algo de propositalmente onírico, algumas delas com detalhes de talismãs junto a elementos tridimensionais, como se lutassem a ilusão e a realidade dentro do mesmo domínio plástico/visual, querendo vazar fora da parede onde foram pintadas. E nos agarram com suas precisas formas deformadas, sugando-nos com um olho que se agiganta, uma letra que escapa da lógica do texto lógico transformada em signo plástico, surreal.
O grafite urbano, em si, não é nenhuma novidade. Já foi usado e abusado. Virou senso comum. A maioria é chata e abusam da inteligência e do gosto de quem passa. Porém, o que chama a atenção nas imagens de Cláudio é a qualidade do traço. Qualquer um pode usar os muros da cidade e fazer a pichação que quiser, criando seu próprio “tag”, sua marca. Mas a “assinatura” de Cláudio é seu próprio desenho: com nome e sobrenome.
Não são grafites de protesto. São grafites de atitude. Ao “roubar” o imaginário do passante, faz da cidade sua sala de exposição, um museu aberto. Retirando da matéria fria de paredes surdas e cegas um pungente traço de humanidade.
Pelos muros da cidade
“Cláudio” é o seu nome. Não precisa do sobrenome. Sua assinatura pessoal está estampada nos muros de Londrina, em cada pintura que faz. São impressionantes. Elas mantêm com o centro da cidade um embate, como se fosse uma guerra entre a imagem de arte, lúdica, dada ao deleite e as peças publicitárias, invasoras, dominadoras – como o impacto visual da publicidade de marcas de celulares em prédios históricos – poluindo a cidade.
Mas, enquanto a imagem comercial parece estar em terreno próprio, como se o uso da cidade fosse só para o comércio e o lucro, simplesmente, a outra esbraveja, afirmando, mais uma vez “o uso contra a propriedade”. E explora essa cidade, buscando em muros acinzentados e ásperos a textura própria de trabalhos em preto & branco, com mil e uma “manhas” com o bico do spray (“cada um custa 12 reais”, ele diz) cuja tinta sai mais ou menos densa, conforme seu desejo (ou a necessidade do desenho). O P&B, aliás, não é uma carência de cor, mas uma opção que torna mais trágica a imagem. Que lhe dá uma densidade dramática, em que a cor, no caso, poderia resultar em algo cômico. E embora suas imagens tenham uma aparência de histórias em quadrinhos, elas não nos fazem rir, exatamente. Elas nos indagam e projetam no espectador o desconcerto de um enigma: o que é que você está olhando aí, meu?
Quem vê os grafites de Cláudio nas ruas, em muros como o da Praça da Concha Acústica; ou no muro do estacionamento das ruas Pernambuco com Pará; no banheiro do Calçadão, perto do Ouro Verde e tantos outros, não imagina o cuidado com que são feitos. Cláudio projeta o que vai ser na parede. Namora o muro, passa por ali várias vezes antes de se decidir por realizar sua intervenção. Cria estratégias: a que horas chegar, com que quantidade de luz pode-se contar, etc. Sabe que, apesar do valor de seu trabalho, o grafite é visto como uma atividade clandestina, ainda se confunde pichação com grafite. Arte com vandalismo.
O desenho, já esboçado em papel, está pronto para tomar a rua. É hora do embate.
Embate, que fica evidenciado quando ele traça ao redor da silhueta do seu desenho uma linha branca, separando seu trabalho do caos urbano, ao mesmo tempo em que o reafirma, no absurdo de olhar o absurdo: a cidade inchada de gente, de prédios e de sujeira e o seu desenho/pintura/grafite a nos indagar sobre aquilo que olhamos. E, ao nos indagar, nos toma, melhor, nos rouba, como se fosse um marginal, um bandido, um delinqüente que nos aprisionasse, por instantes. Depois, engatada a primeira marcha do carro, partimos para o próximo sinal vermelho, dentro da cidade aberta.
Suas imagens geralmente contêm algo de propositalmente onírico, algumas delas com detalhes de talismãs junto a elementos tridimensionais, como se lutassem a ilusão e a realidade dentro do mesmo domínio plástico/visual, querendo vazar fora da parede onde foram pintadas. E nos agarram com suas precisas formas deformadas, sugando-nos com um olho que se agiganta, uma letra que escapa da lógica do texto lógico transformada em signo plástico, surreal.
O grafite urbano, em si, não é nenhuma novidade. Já foi usado e abusado. Virou senso comum. A maioria é chata e abusam da inteligência e do gosto de quem passa. Porém, o que chama a atenção nas imagens de Cláudio é a qualidade do traço. Qualquer um pode usar os muros da cidade e fazer a pichação que quiser, criando seu próprio “tag”, sua marca. Mas a “assinatura” de Cláudio é seu próprio desenho: com nome e sobrenome.
Não são grafites de protesto. São grafites de atitude. Ao “roubar” o imaginário do passante, faz da cidade sua sala de exposição, um museu aberto. Retirando da matéria fria de paredes surdas e cegas um pungente traço de humanidade.
3 Comments:
essa eu vou roubar daqui e levar pra nave. beijo
realmente as imagens dele são de espantar, acredito q qualquer pessoa com o mínimo de sensibilidade percebe a diferença.
Rubens, preciso entrar em contato com vc pra falar sobre o Cláudio, to te mandando um e-mail onde explico melhor.
Paula
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