terça-feira, janeiro 31, 2006

ILUMINAÇÕES




















Iluminações


"Luz é matéria. Sem ela não há cor. Sem cor, nada de tinta. Sem tinta, não haveria pintura. Sem pintura, não teríamos a frase de Leonardo da Vinci, que dizia ser a pintura, uma coisa mental."
Hilário Mertz

Delírio poético – Como quem busca o interruptor de uma lâmpada para acender na escuridão opaca da página, procurando seguir caminhos que levem às idéias luminosas, palavras vão sendo tateadas, a procura de algo para apoiar-se, e de encontrar um assunto para tornar-se texto, de encontrar brechas para clarear o escuro fechado que está por dentro do pensamento. E as palavras surgem, ao mesmo tempo em que se inscrevem nelas o desejo de iluminação.
Com um golpe ardiloso, o espelho inventa narciso se admirando no lago de sua própria retina, refletindo um homem à procura de luz: Diógenes, o cão, a procura de um homem com sua lâmparina. Em cada um, luz e sombra definindo o contorno do que somos.

Religião = Religare – Na prática budista, o Satori é o estado de iluminação. Quando o praticante de Zazen (técnica de meditação) atinge a compreensão absoluta da existência, ele se torna um com todos e tudo, liberta-se do ego e os sofrimentos acabam, pois é descoberta a verdadeira essência de Buda.
Mas, nesse caso, além da disciplina do discípulo, é preciso ter fé. Acreditar em algo que não se vê, não se mede, não se tateia, e – por paradoxal que seja – não necessita de crença. Essa, uma das distinções do Budismo com o Cristianismo.
Quase uma filosofia – Despertar para uma situação, sacar uma questão, desvendar um problema ainda não é resolvê-lo, mas já é uma certeza que há um interruptor ao nosso alcance capaz de acender uma luz. De que, com a iluminação do ambiente, é possível fazer algo, nem que for para deixar a luz apagada por mais um tempo, perceber o silêncio e apenas contemplar o vazio. E, ainda assim, saber estar em algum lugar, posicionado diante de tudo que está à volta, dentro e fora.
Em nossa sociedade, a maior angústia das pessoas é aceitar o vazio. Temos pavor de ficar perdidos, ainda que a solidão possa ser uma grande companheira. Por isso, inventamos as cartas de amor, mas também as guerras, as metáforas e as representações. Diferente para cada época, mas sempre procurando expressar nossos sentimentos, para que a história guarde dentro dela a luz do nosso devir.
Antes arte do que tarde – Por isso a arte, para aprender que somos livres e complexos, ao mesmo tempo. Corpo e espírito, matéria inflada de energia. Como o fio de luz que entra agora pela esperança de saber que quem está por vir, está a caminho. O interruptor fica esquecido na parede. A porta se abre. É dia, é verão. Há luz.