quinta-feira, maio 24, 2007

Manisfesto do DIA DO NADA 2007





Passando o recado

Lançamento da proposta para o DIA DO NADA 2007

Não custa lembrar:

O DDN cai sempre na primeira segunda de maio. Este ano, portanto, cai no Dia 07 de maio. Segunda-feira.

Definição simplista:
DDN não é contra o trabalho. É contra o trabalho desprazeroso, mecânico, robotizado, escravo.
Questiona a mais-valia e o lucro, sob todos os ângulos e hipóteses.
Descrê do progresso industrial e do uso da tecnologia eletrônica como evolução da espécie.
Ri do processo civilizatório.

DDN não é para NÃO fazer nada. O desafio, aliás, e este. A idéia é: fazer nada.
Tudo é trabalho. Tudo dá trabalho. Trabalho, em física, é a energia gasta por um corpo para se movimentar entre dois pontos. Portanto, enquanto o coração bater, existe o trabalho. E a idéia do Nada e do Vazio colocada em movimento como uma ação não cartesiana, melhor, como poética, é a questão.


Constatação
Por causa do Efeito Estufa, gerado pela emissão descontrolada de gases poluentes na atmosfera, principalmente CO2, a temperatura do Planeta está se elevando. O clima está se alterando, as estações do ano perderam suas definições. As águas de março ainda não chegaram e, mesmo em maio, o verão ainda não foi fechado.

O paradoxo quente
Voltemos à Física: se as partículas ficam em movimento constante, em atrito permanente, a velocidades cada vez maiores, então os corpos tendem à combustão, gerando cada vez mais calor. Esquentando mais, faz-se necessário, na nossa sociedade de mercado, um maior uso de refrigerador, ventilador, ar-condicionado, enfim, não queremos abrir mão do conforto industrial que deus nos deu, certo? Acontece que isso acaba gerando um maior gasto de energia, aumentando, assim, o calor. E Eis, assim, montado o paradoxo que nos coloca, a todos, dentro de um circuito vicioso cujo fim não precisamos de nenhuma lâmpada mágica para adivinhar seu desfecho.

Visão crítica
Para Al Gore e para os mercadores da vida o desastre ambiental representa Eco_dólares. E se aproveitam do calor que está fazendo para ganhar mais dinheiro vendendo ventiladores. Ou fazendo projetos mirabolantes como a construção de guarda-sóis no espaço, sucção do CO2 da atmosfera usando como depósito as reservas exauridas de petróleo, etc. Fazem acreditar que a tecnologia de ponta pode resolver o problema do desastre ambiental e que podem resolver o problema mundial por cada um de nós. No máximo, propõem a troca do uso de produtos mais poluentes, por outros, novos, modernos e “ecológicos”. Como se o material usado na fabricação desses produtos e o lixo dos outros, descartados, não interferisse, ainda mais, no problema ambiental.

O que é preciso pensar, em primeiro lugar, é que nossa cultura foi toda construída sobre os alicerces do domínio à natureza. E nunca de integração. O homem civilizado, ocidental, greco-judáico-cristão, sempre viu a si próprio como alguém na paisagem, mas nunca como alguém da paisagem. A natureza sempre lhe foi o fora. E o dentro sempre foi aquilo que ele construiu para vencer a natureza, chegando ao ponto que estamos vivendo agora, que é a de perder todo o contato e relação com ela e recebendo de troco um delicioso “tchau, humanidade, vocês são uns chatos”.


Proposta do DDN
Desmontar o discurso catastrofista dos apocalípticos que lucram com a miséria humana (neopentecostais, niilistas de plantão, comunistas endinheirados) e dos conformistas que acham que “isso não vai mudar nunca”, é uma maneira de tornar o problema menos insolúvel. Deter imediatamente a voracidade consumista, então, já é caminhar, a passos largos, em direção a um outro tipo de relação do homem com a natureza. Isto é, de integração e harmonia.
Mas não basta apenas desligar o ventilador durante quinze minutos e ficar de braços cruzados, com tédio e raiva, passando calor. É preciso que o espaço e o tempo sejam utilizados de maneira criativa e lúdica como resposta vital a esse modo de viver que nos quer reféns do impulso de morte. É possível utilizar as energias emanadas pela própria natureza, a nosso favor, sem ter de gastar um centavo por isso. Ao contrário, para nos humanizar através delas.
E o que nos torna mais profundamente humanos é a nossa capacidade de compreender a realidade e rir, quando, ao invés de nos lamentar pela situação ou de nos perder em abstrações intelectualizadas, agimos.

Questão concreta
Para o DDN, tanto quanto para a filosofia oriental e para a cultura indígena, agir é não-agir. É deixar acontecer. Como na Capoeira de Angola. Como no Judô. Usar a força, o impulso e o movimento do oponente, contra ele próprio. A nosso favor.
Eis o devir do vento, portanto, dando movimento a essas palavras. Não só a hélice do ventilador, no caso acima descrito, para combater o calor. Mas a vela do barco. Aqui, brincando com as folhas soltas das palavras da árvore-idéia, como uma aposta no lúdico.

Recado dado
Semana passada, na casa do Jarbas Lopes – que tem uma chácara em Maricá, cujo limite de sua propriedade é uma falésia, um corte abrupto na faixa de terra, que dá diretamente em uma lagoa formada por uma cadeia de montanhas, perto de Niterói – veio a solução do paradoxo do ventilador, que me assaltava desde que comecei a pensar em um tema para o DDN deste ano. Ou seja, o que propor para alguém fazer no lugar do ficar embaixo do ventilador desligado?
Foram as próprias crianças, sobrinhas e filhos do Jarbas, quem resolveram o problema. Não que elas soubessem de toda essa elaboração mental. Não é isso. O que aconteceu foi que havia várias redes de dormir – com mosquiteiro e tudo – lá e as crianças pediram ao Jarbas para dormir fora de casa, nas redes, dependuradas na árvore que fica perto da falésia. E foi uma festa. Amarramos umas seis redes na árvore e passamos a noite lá, entre a brisa que suavizava o calor que fazia e a paisagem imponente, ao longe. Sons, só de coruja, de vez em quando, e causos, que foram contados até as crianças pegarem no sono.
Como um recado dado, o DDN me apareceu com essa idéia pronta. E eu só tive o trabalho de contar o que aconteceu, embalado pelo vento.